Algumas experiências com música nas escolas têm sido bem sucedidas. A professora Cauduro (1989), por exemplo, desenvolve uma série de estratégias que procura estimular a curiosidade das crianças para conhecerem a si próprias e o mundo em que vivem através de suas múltiplas sonoridades. Trata-se de descobrir uma outra forma de "ler" o mundo que os rodeia, sonorizando os objetos que os cercam, procurando tornar o ouvido alerta e sensível a todo tipo de som, desenvolvendo a acuidade para escutar. Isto envolve reconhecer, identificar, discernir e discriminar os sons. Este processo também envolve o desejo de explorar as possibilidades sonoras do próprio corpo, dos objetos, de instrumentos musicais para depois usá-los em improvisações de diálogos sonoros. Pode-se, com isso, acompanhar canções, sonorizar imagens, desenhos, histórias. Todas estas atividades não deixam de lado o prazer de ouvir música, de cantar, de dançar e movimentar-se, estimulados por sons, melodias. Trata-se de propor experiências e atividades lúdicas que demandem a participação da criança inteira, que mobilizem seu corpo, seus sentimentos, sua afetividade, sua inteligência, sua imaginação e suas capacidades expressivas.
O papel da mediação docente
A atividade musical em qualquer proposta pedagógica é um processo agradável de ser vivido com o outro, meio ao processo de vivência e elaboração interna da percepção. Não se pode esquecer, em nenhum momento, que este processo, como já se viu, é ativo, consciente, único, físico e mental. Por isso, não se deve desprezar algumas qualidades que precisam ser cultivadas em cada pessoa, a fim de desencadear uma sensibilização auditiva:
• curiosidade - ser curioso é se dar o prazer de realizar descobertas e explorações junto com os estudantes;
• sensibilidade - ser atento e sensível a fim de aproveitar os momentos propícios para a vivência sonoro-musical;
• imaginação - gostar de alar as múltiplas combinações sonoras possíveis, por exemplo, dois sons leves, um pesado, um áspero, de trás pra frente, outra mais; se dar a oportunidade de variar e fazer diferente; se permitir o jogar, brincar com sua própria imaginação e aceitar a imaginação do outro;
• paciência - aceitar e respeitar o tempo, o interesse e as dificuldades de aprender que cada um possui;
• gostar de música - sem o seu gostar, sem o seu cultivo musical, ouvindo, cantando, brincando com a música, nenhuma sensibilização será possível.
Conscientes dessas qualidades, os professores ampliam a sua própria percepção auditiva, a dos estudantes e, também, a sua capacidade de compreender e responder à cultura, para que não sejam meramente reprodutores do repertório cultural já existente e possam participar desse processo de criação através das escolhas que fazem. Professores trabalhando com música, torna-se importante estabelecer relações com os grupos musicais da própria comunidade; conhecer e apreciar músicas de seu meio sócio-cultural e do patrimônio da humanidade; valorizar a diversidade sem preconceitos estéticos, étnicos e culturais. Esta reflexão a respeito da atividade musical na escola se dirige à compreensão da cidadania como participação, como atitudes de cooperação, respeito ao outro. A atividade musical assim entendida implica um posicionar-se de maneira critica, responsável e construtiva; desenvolve a noção de identidade; valoriza a pluralidade do patrimônio sócio-cultural l; integra-se como atividade transformadora do ambiente.
Depoimento da professora Ana Cláudia sobre um trabalho realizado com quatro 8ª séries do ensino fundamental em uma aula de Ensino Religioso.
Coloquei uma música calma do Pink Floyd , com uma guitarra de fundo . E falei para os alunos fecharem os olhos e viajar com as minhas palavras. E fui descrevendo caminhos e paisagens , lugares calmos , lugares perigosos e lugares com dificuldades até que chegarmos num muro e perguntei o que teria atrás do muro?
Depois eles deveriam escrever o que mais gostaram da viagem e o que não gostaram , quais as dificuldades encontradas durante a viagem e o que teria atrás do muro. Durante todo o trabalho escrito a música foi mantida e os alunos responderam todas as questões , fizeram desenhos do que teria atrás do muro sem conversar e os que conversavam , sussurravam para não "quebrar" o momento. Quando deu o sinal , eles fizeram AAHHH!!! Que aula boa profe! Depois minhas colegas me pediram no recreio o que eu tinha feito que os alunos estavam tão calmos e o clima da sala estava tão bom . Respondi e ouvi o seguinte comentário :
" Eu já fiz esse tipo de trabalho e só recebi vaia e deboche." Perguntei que música ela havia colocado e descobri que a música era uma mistura de clássica com sons de pássaros. Isso me levou a concluir que e ela relaxava com esse tipo de música , mas os alunos tem outro ritmo e outras vivências e que um Rock pode sim, fazê-los relaxar .
Essa experiência com uma das 8ª séries não durou tanto tempo. A turma é bastante agitada e relaxou só durante o tempo da viagem , quando mandei abrir os olhos e passei o trabalho escrito que seria feito , houve por parte de alguns uma agitação , como se tivessem que buscar o tempo que passaram quietos. Então coloquei uma música um pouco mais rápida (ritmo intermediário) do mesmo CD e os alunos começaram a trabalhar batendo pezinho e sacudindo a cabeça, curtindo o som até os apáticos , considerados CDF’s dançavam sentados e trabalhavam.
Cada pessoa tem seu próprio ritmo . Isto significa que uma música calma nem sempre tem efeito calmante para todos . Pode até acalmar por alguns instantes , mas não durará por muito tempo e passará a ter um efeito que causará irritação. Quem é mais acelerado encontra sua estabilidade em músicas que nem sempre são calmas .